Rodrigo Fortes

"Só duas coisas são infinitas, o universo e a estupidez humana, mas não estou seguro sobre o primeiro"

Casamento: uma união egoísta - Parte 2

Todo casamento, é nisso que acredito, nunca deixa de ser um acordo silencioso em que ambas as partes usufruem vantagens que podem ser desde a segurança material até o apoio psicológico.

Geralmente o macho, mesmo que inconsciente, procura uma fêmea perfeita, a mulher dos sonhos, limita-se então aos aspectos físicos, seios firmes, bumbum durinho, cintura lisa, pernas grossas e rosto angelical (apenas características superficiais). Já a fêmea procura um macho de boa família, com um bom patrimônio e uma situação financeira estável, seja educado e se for bonito é um bônus a mais, até “50 Tons de Cinza” deixa isso bem claro nos primeiros capítulos e a mulherada adorou, mesmo que por osmose.

Porém nem sempre as características, físicas, se encaixam e então as exigências diminuem e simplesmente ocorre a união mais simples e inesperada. Nesse momento então começa o teatro.
Primeiro ato, apresentação dos respectivos (as) aos familiares, seguindo para o próximo passo das normas da tradição, o noivado.

O segundo ato sai da fase de planejamento e chega o momento da execução, a alucinante maratona da organização do grande evento. Ornamentação da igreja, escolha de padrinhos, seleção de músicas, fotógrafos, local da festa, contratação de um buffet, agregados para convidar, chá de panela, despedida de solteiro e por ai vai, alguns meses de empenho e dedicação.

Eis que então chega o grande dia, todos os envolvidos encontram-se cansados e até estressados, eis então o auge da peça teatral, noivo e noiva (após horas torrando a cabeça no cabeleireiro) devidamente paramentados. Cenário pronto, fundo musical preparado, plateia aflita para assistir a peça, enredo muito conhecido mudando apenas os personagens, e depois se atirar aos comes e bebes.

Os personagens principais a postos, pais e padrinhos em locais de destaque e claro, o padre, com seu papel na ponta da língua por tê-lo representado milhões de vezes. Eis então que surge a grande frase, “Aceita para amá-la e respeitá-la pelo resto da vida?”, como fazer uma promessa dessa se tratando de um sentimento? Sentimentos são volúveis e incontroláveis, mas bem, temos que aceitar para a peça teatral continuar como ensaiado.

Chegamos ao momento da troca de alianças, ou algemas? Sempre que o casal olhar para sua mão vai lembrar que fez um compromisso, sendo um dos responsáveis por isso. Mas como se não bastasse é necessário assinar a grande certidão de casamento, confirmando as promessas feitas e selando a linda união, neste momento, antes mesmo de saírem da igreja já surge o primeiro momento de desconfiança desta relação que esta a se iniciar, se um dos casais desistir do enlace no futuro? Perante a justiça e a Lei, a certidão de casamento é a garantia da posse, principalmente de bens materiais. Mas o padre ainda desconfiado chama os padrinhos para testemunhar, por escrito, que realmente os noivos fizeram tal promessa.

O macho e fêmea que decidirem se unir formalmente perante a sociedade, precisam provar do aborrecimento da burocracia para provar que estão interessados na procriação, amor, companheirismo ou seja qual for o motivo daquela união.

E então após o cumprimento dos padrinhos e convidados, fecham a grande atuação do casal e o encerramento da peça, indo para tão esperada comilança.

Isso mostra como o casamento não passa de um acordo silencioso entre ambas as partes que serve para usufruírem vantagens materiais e psicológicas.

Fica a dica de uma pequena reflexão do amor. É o resultado da paciência, humildade, respeito, honestidade e da verdade que são colocados a prova todos os dias na vida de um casal. Por isso, por esta hipocrisia, que a cada dia mais aumenta precariedade da situação social do país e a união entre duas pessoas perde o seu real valor.